A primeira impressão que se tem do filme de Julia Rezende, é se tratar de um filme brasileiro água com açúcar, de temática adolescente. Bruno (Caio Blat) e Amanda (Leticia Colin) se conhecem no hotel do aeroporto, uma tempestade faz com que o voo deles para São Paulo atrase e ele passam a noite juntos. No inicio, os diálogos são sem muita profundidade e parece forçado o encontro dos dois protagonistas, faltou sensibilidade para criar uma atmosfera mais profunda, acontece tudo às pressas bem no início do filme. De toda a forma, acho que a ideia é essa mesmo: Oi, tudo bem? Vamos transar?
Sexo casual que surgem de encontros casuais, característica marcante das relações superficiais criadas no século XXI. Dessa forma, até a metade do filme ficamos com a impressão de que a relação que eles estão criando não é natural. Depois começamos a entender, e o que parecia um filme ingênuo com uma atriz pouco expressiva, se transforma em uma reflexão sobre as relações modernas, tanto de trabalho, como afetivas e até geográficas.
Logo fica claro que Leticia Colin leva a protagonista um ar de desapegada e fria, o que inicialmente causa a falsa impressão de que atua sem muita vontade. Na real Amanda é um retrato fiel da Workaholic, coloca o trabalho acima de tudo, inclusive da sua vida pessoal e dos seus relacionamentos, por fuga e medo de se magoar se dedica completamente aquilo que sabe que tem controle, seu trabalho. Assim, ela parece uma pessoa chata, e que não se importa muito se vai ou não ficar com Bruno, enquanto ele corre atrás dela incessantemente. Caio Blat se encaixa bem como o carioca despreocupado e apaixonado, papel que já está acostumado e desempenha com facilidade.
O filme buscar estereotipar o tempo todo as diferenças entre Rio e São Paulo, os cariocas bon vivants e calorosos, e os paulistas trabalhadores e frios. É bem cansativa essa história, que não se trata da realidade, as generalizações sempre trazem uma série de problemas e discussões. Entretanto, em certo ponto o filme procura mostrar uma caricatura desses dois lados.
Se baseando nisso criam os protagonistas. Ela, paulista, nunca relaxa, é focada na carreira e passa os dias na agência de publicidade. Ele, carioca e imaturo, não possui um trabalho fixo, vive da arte, e passeia pela cidade explorando a sua beleza. Em nome do amor, decidem passar por cima das diferenças. Até o ponto em que elas se tornam pesadas demais e a realidade dificulta as coisas.
Dentro da história é explorada a metáfora do leão, Amanda retrata São Paulo como uma selva em que se tem que matar um leão por dia, Bruno ri e fala que não consegue enxergar leão em lugar nenhum. Até ele aparecer no formato da possibilidade de ter que criar seu irmão mais novo após a morte do pai. Simbologia que fica clara quando num passeio ao zoológico, o irmão volta com um leão de pelúcia gigante e pede pra dormir na casa da Amanda, com Bruno. O peso das responsabilidades começam a surgir, é hora de crescer.
Tendo essas duas grandes e famosas cidades como foco, o filme explora bastante suas paisagens e pontos conhecidos, mostrando seus cenários belíssimos. A trilha sonora sobressai, com muitas músicas da cena alternativa e condiz perfeitamente com a atmosfera da narrativa.
A química entre os dois personagens é visível, e a história de amor consegue convencer ao longo da trama, fato notável nas cenas de sexo que tem a dose certa de poesia e interação. O filme começa a fluir do início para o meio e engata numa narrativa bonita do casal, superando a distância e vivendo a paixão intensamente, e mesmo chegando a um fim comum aos filmes de amor, consegue com que seu desfecho fuja (em partes) do clichê, sem decepcionar os espectadores românticos.