A atriz britânica Kate Winslet retorna ao grande time de estrelas do cinema que protagonizam grandes série para televisão norte-americana e streaming. Vencedora do Oscar, (O Leitor, 2009), Emmy (Mildred Pierce, 2011) e Globo de Ouro, Kate estreia na HBO neste domingo (18), Mare of Easttown, como atriz principal e produtora.
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Kate dá vida à Mare Sheehan, uma detetive de uma pequena cidade da Filadélfia, na Pensilvânia, que tenta desvendar o assassinato de uma garota que estava desaparecida há 20 anos, um crime que choca a cidade e todos se tornam potenciais suspeitos. Ah, claro, enquanto Mare tenta resolver os ofícios da profissão, ela lida com os dilemas da família, em relação ao filho e relacionamentos.
Em entrevista exclusiva com a ‘Vogue”, Kate fala sobre seu envolvimento na série, na frente e atrás da câmeras e seu preparo para dar vida a essa detetive obstinada a solucionar este crime que mexe com a pequena cidade de Delaware.
Como a Mare of Easttown surgiu?
KW: Foi uma época bizarra, na verdade. Em setembro de 2018, eu estava filmando na Grã-Bretanha e, no intervalo de um mês, recebi o roteiro de Ammonite e os dois primeiros episódios de Mare. Acabei dizendo “sim” para esses dois grandes e incríveis trabalhos. Estava muito entusiasmada de trabalhar com a HBO de novo – tinha feito Mildred Pierce com eles e foi uma experiência realmente fantástica. Li o roteiro e era uma espécie de sonho para uma atriz de meia-idade, sinceramente. Eu na verdade odeio esse termo, mas estou com 45 agora.
Não tenho mais 20 anos. E quando li a Mare, vi a sorte que era terem me convidado para algo que poderia ter sido oferecido a uma atriz norte-americana, por exemplo. O texto era totalmente real e maravilhoso, e… eu consegui me sentir dizendo aquelas palavras. Isso é sempre um parâmetro para mim: falo trechos em voz alta quando estou lendo um roteiro, e interpreto. Digo para o meu filho ou para a minha filha: “vem cá e lê rapidinho esta cena comigo”. E assim vou tendo a sensação de se pode ser bom. Com a Mare eu tive essa sensação imediatamente. Em primeiro lugar, estava lisonjeada por receber o convite, mas também estava seduzida pelos desafios.
Que desafios eram esses?
KW: A série é ambientada no Condado de Delaware, nos arredores da cidade da Filadélfia, na Pensilvânia. É um país diferente do meu e uma personagem completamente diferente para mim, diferente de tudo que já tinha feito. Eu nunca tinha estado no Condado de Delaware antes desse projeto. As pessoas têm o sotaque específico Delco, e isso era um fator extra para mim, tipo “meu Deus, vou ter que mais uma vez aprender outro tipo de sotaque americano!”. Eu adoro fazer sotaques, mas este é particularmente complicado.
Quem é Mare Sheehan?
KW: Ela é uma figura que foi o pilar de uma comunidade durante muitos anos. É uma sargento detetive, uma boa sargento detetive. No ano anterior, uma garota de 20 e poucos anos, Katie Bailey, desapareceu. Ela era filha de outra mulher do condado, velha amiga da Mare. Todo mundo conhece todo mundo em Easttown, então todos os olhares estavam voltados para a Mare, para ela encontrar a Katie – mas ela não encontrou. Eles não sabem se ela morreu ou está viva, não sabem o que aconteceu.
Não têm a menor ideia. Além disso, quando a Mare tinha 16 anos, foi responsável pelo ponto da vitória em um campeonato nacional de basquete feminino. A cidade ficou famosa. E todos os anos há uma cerimônia em torno desse grande episódio ocorrido há 25 anos. A Mare é erguida diante da população da cidade e todo mundo a aclama como uma grande heroína, mas ela não se sente assim. Na metade do tempo ela só quer se esconder e desaparecer, mas segue em frente.
Sobre o que é a história, em termos de enredo e temática?
KW: Bem, é sobre um assassinato em uma pequena cidade, e há um suspense ao fim de cada hora. Eu fiquei grudada nisso a cada episódio – sabe aquela coisa maravilhosa que você sente quando está vendo um drama sobre um assassinato e estão tentando descobrir quem matou? O “quem foi” é muito fascinante. Acho que é uma história muito inteligente nesse gênero.
Mas não é só a história de um crime. Na verdade, é mais sobre a comunidade, sobre misericórdia, compaixão e tristeza; e sobre como pessoas reais vivem, lidam com coisas reais e como essas coisas reais nem sempre são felizes, sabe? Podem ser muito desafiadoras. As dinâmicas familiares podem ir mudando em função de algo que aconteceu no passado ou que está acontecendo no presente.
A Mare é uma ex-atleta e hoje policial. Como você se preparou fisicamente para o papel?
KW: Eu sabia que seria um grande desafio. Foi uma filmagem longa. Foram 124 dias e a Covid apareceu no meio. Eu interpretei essa personagem mais de um ano e houve cinco meses de preparação. Tinha que estar em forma. Não porque necessariamente seja preciso ver um corpo em forma ou coisas assim, mas porque eu tinha que correr muito nas filmagens. Eu tinha que fazer muitas cenas de combate, brigas, enfrentamento e prisão de pessoas, levar homens enormes para o chão. Mas, durante as filmagens, frequentemente eu tinha que ser como uma atleta que está treinando para alguma coisa. Não estava de fato treinando fisicamente, mas fiz muitos passeios longos de bicicleta, tentei pedalar 20 km por dia, algo assim.
Ou seja, nada exagerado, não demora muito! Mas eu tinha que estar saudável e em dia com isso. A questão é que é bom sentir que ela tinha sido forte na juventude, mas não é exatamente assim agora. Não queria mostrá-la como uma mulher-maravilha irreal aos 40 e poucos anos. A maioria das mulheres não é assim – fazemos o que é possível no meio do malabarismo todo. Então eu também queria refletir isso. Para mim, só tinha que me manter bem para enfrentar isso, porque era um trabalho muito intenso.
Que pesquisa você fez?
KW: Eu passei muito tempo na polícia de Easttown e do município de Marple, que são vizinhos. Havia um grupo de sargentos detetives e oficiais da polícia que realmente me ajudaram muito. Em especial uma mulher chamada Christine Blaylor. Esta sargento detetive era explosiva, pequena, extraordinária, uma fera. Ela tinha uma vida, não exatamente como a da Mare, mas parecida: foi mãe muito nova, não tinha grandes perspectivas e precisava fazer alguma coisa para dar valor a si mesma e ter um objetivo na vida.
Aos 22 anos, ela estava empurrando o carrinho de bebê em um shopping e encontrou um amigo que tinha acabado de se formar na Academia de Polícia. E pensou que estava em forma, era forte e também podia fazer aquilo. Ponderou que a criança estava com quase três anos e que dali a um seria possível. E fez isso. Foi uma das duas mulheres que se formaram em uma turma de 55 pessoas. Ela é sargento detetive até hoje, tem quase a minha idade. É incrível, muito, muito positiva.