ANAHEIM, CALIFORNIA - AUGUST 23: Hilary Duff attends D23 Disney+ Showcase at Anaheim Convention Center on August 23, 2019 in Anaheim, California. (Photo by Frazer Harrison/Getty Images)

Hilary Duff fala de sua trajetória e sobre projeto ‘How I Met Your Father’

A “garota da casa ao lado” agora tem um apartamento novo.

Hilary Duff –sempre jovem– encontrou um lar duas décadas atrás no Disney Channel como Lizzie McGuire, uma pré-adolescente muito confiante que existia em versões paralelas: como pessoa e como personagem de animação.

Depois de incursões à música, onde ela conquistou múltiplos discos de platina, e ao cinema, onde ela e a irmã, Haylie Duff, foram indicadas diversas vezes para o Razzie, o anti-Oscar, ela desistiu de procurar papéis nas telas. “Eu tinha passado quatro anos em turnê”, disse Duff. “E precisava muito de uma pausa”.

Ela se casou com o astro do hóquei no gelo Mike Comrie, com quem tem um filho de nove anos. Dois anos mais tarde, em meio ao seu divórcio, ela recebeu um convite para um papel em “Younger”, comédia romântica do canal de TV a cabo TV Land, de Darren Star, e trabalhou durante sete deliciosas temporadas como a impertinente executiva editorial Kelsey Peters.

Ao longo do caminho, ela teve uma filha com o músico Matthew Koma, com quem se casou pouco antes da pandemia. Voltou a engravidar um ano mais tarde. Quando estava no nono mês da gestação, e com as gravações de “Younger” concluídas, ela conversou com Isaac Aptaker e Elizabeth Berger, dois dos showrunners de “This is Us” (com Dan Fogelman), sobre a ideia deles para uma série calcada em “How I Met Your Mother”, um programa que foi a cara do humor televisivo na década de 2000.

A série ficou no ar entre 2005 e 2014, estrelada por Josh Radnor, o cara que passa a história inteira em busca da mulher que se tornaria a mãe de seus filhos. O elenco de apoio incluía Neil Patrick Harris, Cobie Smulders, Alyson Hannigan e Jason Segel. Na nova série “How I Met Your Father”, é Duff quem interpreta a heroína azarada no amor –uma fotógrafa chamada Sophie que vive em um apartamento nova-iorquino fofíssimo que quase nenhum artista ainda em busca do sucesso seria capaz de bancar. (Kim Cattrall, sempre vestindo cashmere, aparece como a versão mais velha de Sophie.)

Duff assistiu a apenas alguns episódios do original. “Eu gosto demais de homicídios e isso não me deixa tempo para ver comédias”, ela disse. Mas depois de hesitar por algum tempo, ela aceitou o convite. A série estreou na semana passada, nos Estados Unidos, com dois episódios que virão seguidos por outros oito lançados um por semana —no Brasil, a estreia deve acontecer apenas em março, no Star+.

Bem cedinho, em uma manhã de dia de semana, Duff apareceu para uma conversa em vídeo de sua casa em Los Angeles parecendo angelical em um vestido branco com detalhes de bordado inglês. Apesar de algumas interrupções –abraços grudentos de sua filha de três anos de idade, Koma, gravando um vídeo para o TikTok (“faz qualquer coisa para conseguir conteúdo”, ela disse, em tom indulgente), Duff falou sobre o passado e o presente de sua carreira e sobre se ela, como Sophie, acredita em almas gêmeas.

Abaixo, trechos editados de sua entrevista ao site ”F5”:

Você tinha 13 anos quando “Lizzie McGuire” estreou, em 2001. Como foi crescer diante das câmeras?
No caso de Lizzie, a personagem era eu; as linhas eram muito indistintas. Eu era como ela em minha vida cotidiana, a rainha dos desencontros. Algumas das coisas que aconteceram com ela foram até reconfortantes de dizer em voz alta, porque também estavam acontecendo comigo. Lizzie se tornou muito, muito real para mim. E em seguida rodei o filme sobre ela, aos 15 para 16 anos, e queria uma identidade própria. Eu estava na rua e as pessoas gritavam “Lizzie! Lizzie! Lizzie!” Eu queria ser conhecida como Hilary. Agora fiz as pazes com aquilo tudo, inteiramente. Amo Lizzie e sou muito grata por ter tido aquela experiência. Mas digamos que, dos 17 aos 25 anos, aquilo me matava.

Você decidiu se dedicar à música. Depois fez mais filmes. Em seguida, sua carreira parece ter perdido o ímpeto. Como é que você reencontrou seu rumo na televisão?
Eu me casei, tive um filho. Descobri que adoro cozinhar. Adoro receber convidados. Adoro meus cachorros. Adoro andar de bicicleta. Eu comecei a descobrir quem eu era de verdade, sabe? Não tive a oportunidade de tentar nada disso quando vivia em turnê, trancada no hotel, ou no ônibus, ou no palco. “Younger” apareceu para mim no momento em que Mike e eu estávamos para nos divorciar. Ninguém sabia disso. Li o roteiro e pensei comigo mesma que aquilo poderia ser ótimo. Eu teria a chance de interpretar uma adulta. Era divertido. Era doce. Eu me sentia bem parecida com aquela pessoa.

Além disso, Kelsey também é muito determinada e muito boa em seu trabalho.
Ela conhece seu valor. Já eu demorei mais do que ela para descobrir o meu valor. Talvez tenha aprendido com ela. Mas na hora eu respondi que não podia ir a Nova York e pedi desculpas, explicando que estava para assinar meu divórcio. E tinha um filho pequeno. [Darren Star] respondeu que “Não, não, você pode. Vamos só gravar o piloto. Nada demais”. A sensação de que alguém como Darren queria trabalhar comigo era ótima. Gravei o piloto. E a série durou sete anos.

Então, na semana em que voltei a Los Angeles, recebi o telefonema de Isaac e Elizabeth. Perguntei por que eles estavam ligando e disse que estava a ponto de ter um filho. “Vocês me querem para o papel de uma mulher de 30 e poucos anos que não tem filhos?” Obviamente, o título me assustou bastante. Eu não queria fazer uma versão repaginada, ainda mais de uma série que as pessoas amavam tanto. O elenco daquela série era incrivelmente unido, muito sincronizado e preciso. Mas então Isaac disse que era uma continuação. Ninguém vai tentar ser essa ou aquela pessoa. O novo elenco vai poder embarcar em sua própria aventura.

E isso a convenceu?
Bem, eu amei Sophie e não tive a oportunidade de passar por aquilo, na casa dos 30, só namorar, tentar encontrar o cara certo e me dar mal quase sempre. Tive meus problemas, com certeza, mas não naquele sentido de, bem, como é que vou saber onde vou parar? Será que sou só uma perdedora? Sophie é romântica. Tem a ideia de que a pessoa certa para ela está lá em algum lugar, mas vai ter de aprender que antes de tudo ela precisa crescer.

Já lhe contaram quem é o pai?
Eu desisti, porque eles simplesmente vão me enrolar, me dar pistas falsas. Na verdade, é uma situação complicada de enfrentar em certos momentos da filmagem, porque tenho momentos com todos os rapazes. É quase como “The Bachelor”, mas melhor. Cada um deles é uma possibilidade. Por isso, desisti de tentar adivinhar.

Você fica empolgada ao saber que, quando crescer, você vai ser Kim Cattrall?
Com certeza sim. Quando me sentei ao lado dela para as sessões de fotos, fiquei pensando que, meu Deus, como eu preciso de uma postura como a dela. Eu preciso me transformar nela. Para mim, é uma sensação doce, porque tenho um filho e mal posso esperar para tomar vinho demais, me acomodar confortavelmente em meu suéter de cashmere e contar histórias da minha vida para ele.

Sophie acredita em almas gêmeas. E você?
Na verdade, não. Pode ser que meu marido fique magoado ao ouvir, porque ele com certeza é o mais carinhoso e atencioso de nós dois e não acho que seria capaz de viver algo como o que temos com outra pessoa que não ele. Eu o amo mais do que imaginei que seria possível amar uma pessoa, e o amor só cresceu com todas essas malditas crianças que tivemos. Sou muito feliz. Achei que viveria sozinha para sempre. Mas na verdade não acho que acredito em almas gêmeas. Acho que existe muita gente no mundo com a qual você pode ser compatível e por quem você pode se apaixonar, e os pratos da balança sobem e descem. Você só precisa trabalhar se quer encontrar o caminho para retornar àquilo que já teve, ou não.

Fui informada de que você foi pega no teste de Covid uma semana depois de começar a filmar “How I Met Your Father”.
Não, na verdade foi no primeiro dia de trabalho. Eu não tinha pego o vírus durante toda a gravação de “Younger”, e estava vacinada. Fizemos o primeiro dia de ensaios. Eu nunca tinha gravado uma série com múltiplas câmeras e não sabia bem o que fazer. Tinha acabado de ter o bebê apenas quatro meses antes. Entrei no carro e disse para o meu marido que ‘não sei se consigo fazer esse trabalho. Tem algo de errado comigo. Não sou assim’. E naquela noite, recebi os resultados, lá pelas 4h da manhã. Foi horrível. E a produção parou mais uma vez por minha causa, porque meu filho estava com Covid.

O que houve com o plano de retomar “Lizzie McGuire”? Deu errado porque a série queria reconhecer que existe sexo e a rede não?
Foi uma história louca. Eu não estava disposta a ceder, na verdade, por causa da idade que Lizzie teria, e eles tampouco queriam ceder e por isso decidimos fazer uma pausa, com toda educação e carinho. O projeto não morreu. Mas não está vivo. Estou sempre disposta a trabalhar com aquela personagem porque ela foi tão importante para mim. Nunca se sabe.

A coisa mais bacana sobre a trajetória da sua carreira é que você conseguiu se tornar uma atriz adulta sem ter de deixar de lado a atriz pré-adolescente que foi um dia. Você continuou a interpretar mulheres engraçadas, ambiciosas, francas e de coração aberto.
Isso significa demais para mim. Navegar esse aspecto e não deixá-lo de lado foi um desafio quando a impressão era a de que outras pessoas estavam fazendo grandes filmes com o objetivo de serem levadas a sério. Mas eu na verdade não sou assim. E nada do que fiz me embaraça; e agora enfim me sinto confortável com isso.

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