A cinebiografia “Tim Maia”, que estreou há uma semana, em 30 de outubro, assim como o personagem que retrata, começa a causar polêmica. Isso porque alguns amigos e parceiros do cantor que foram ignorados no filme têm feito críticas a ele. Segundo o diretor do longa, Mauro Lima, no entanto, a chiadeira era prevista. “Tem um pouco a ver com o recorte que decidi quando escrevi o roteiro”, diz o cineasta.
Em entrevista ao UOL, ele explica por que muitas pessoas importantes na vida do músico não entraram no longa. Entre os motivos, Mauro Lima cita direitos autorais e do uso de imagem até a decisão dele de não mostrar quem eram as pessoas que usavam drogas junto com Tim.
“Contei [a história] pela ótica de um amigo próximo que constava na biografia feita pelo Nelsinho”, explica Mauro Lima, citando o livro “Vale Tudo”, da editora Objetiva, escrito por Nelson Motta. O “amigo próximo” a quem o diretor se refere é cantor paraguaio Fábio, que é citado na obra de Motta e também escreveu um livro sobre Tim: “Até Parece que Foi Sonho – Meus Trinta Anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia”.
“Isso não significa que o Tim não teve outros amigos na vida, tão ou mais importantes do que os que cito”, argumenta. Parte da bronca veio do cantor baiano Hyldon, um dos grandes nomes do soul brasileiro, autor da famosa “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”, que embalou muitos romances, desde a década de 1970.
Amigo e parceiro de longa data de Tim Maia, o músico, que não aparece no longa, fez algumas reclamações sobre o filme. “Hyldon me contou coisas muito legais, algumas dariam um filme por si só”, diz Lima, argumentando que o caminho e o recorte da história do cantor proposto pelo produtor do longa, Rodrigo Abreu Teixeira, foi outro. “Ele comprou [os direitos de] a biografia do Nelsinho, que é o que havia de mais completo [sobre a vida de Tim Maia].”
O diretor ainda conta que, durante a pesquisa adicional que fez sobre a vida do músico, deparou-se com uma caixa cheia de coisas. Entre elas estava o livro escrito por Fábio. Isso o fez decidir contar a história do “soulman” pela ótica do artista paraguaio. “Achei que a história tinha que ser contada por um amigo próximo, uma testemunha ocular que estava na saúde e na doença, tipo dentro do quarto do hotel.”
De acordo com Lima, se houvesse um livro escrito por Hyldon ou por Cassiano, outro parceiro importante na carreira de Tim Maia, ele “poderia ter tido outra ideia”. O diretor argumenta que achou melhor excluir esses músicos do filme do que citá-los de maneira rasa. “Não me agrada colocar no filme um carinha passando lá atrás dizendo ‘Fala aí, Cassiano…’, só pra justificar”, resume.
Outra justificativa do diretor para não ter citado alguns nomes no filme são as cenas de uso de droga. “Não vou ficar entregando neguinho com quem o Tim circulava ou tocava. Tem cena de um cheirando, outro aplicando, tomando ácido, fazendo merda, prefiro que o Tim tenha guitarrista, baterista, amigo e tal do que ficar dando nome aos bois”, completa.
Alguns personagens, entretanto, foram parar na lista de excluídos por outra razão, diz o diretor. “Teve gente que não quis estar no filme, não liberaram a imagem.”
Sem citar nomes, ele fala sobre um caso que, segundo ele, também causaria polêmica. “Um cara me pediu R$ 100 mil só pela parte dele na autoria de uma música [que aparece no filme], imagine direitos de uso de imagem…”, conta Lima, completando que esse não foi o único imbróglio que precisou enfrentar em relação a direitos autorais. “Quem não está no filme não tem ideia do que acontece. A pessoa acha que só o Roberto dificulta as coisas… E o Roberto nem dificultou”, desabafa, o diretor, referindo-se aos trechos do longa que mostram o cantor Roberto Carlos.
Por fim, Lima conclui dizendo que seu filme não é um documento definitivo sobre Tim Maia. “Pode se fazer uns 15 filmes com a vida dele. Eu fiz um.”