O filme Ferrugem e Osso (De rouille et d’os), do diretor francês Jacques Audiard, conta a história de Stephanie, uma treinadora de baleias vivida pela atriz Marion Cotillard, e seu envolvimento com um desempregado chamado Ali que luta box nas ruas por dinheiro, na pele do ator Matthias Schoenaerts.
Eles se conhecem casualmente em uma boate, e logo depois ela sofre um acidente enquanto fazia um show com uma baleia e perde ambas as pernas. Ele, por outro lado, passa por dificuldades financeiras com um filho pequeno para criar e morando de favor na casa da irmã.
Nasce aí uma relação de amizade, compreensão e sexo que não tem nada para dar certo, mas encanta. Acima de tudo o filme trata de esperança, de conseguir ver a luz no fim do túnel e superar situações impensáveis de se conseguir, ver a alegria nas pequenas coisas.
Mesmo sem querer ele a ajuda a parar de sentir pena de si mesma e seguir em frente. Retrata de forma bastante sutil e particular um relacionamento entre amigos que possuem uma relação sexual, situação cada vez mais normal no mundo atual.
Mesmo depois que ela perde as pernas ele não sente pena nem repulsa e a trata da mesma maneira. Existe uma relação muito simples, de troca sem pretensões, que acaba levando a uma profundidade admirável.
A interação entre os dois atores é tão sincronizada que em muitas cenas parecem estar dançando um pas de deux, como na cena em que ele a carrega no colo até o mar, com as pernas já amputadas, e juntos tomam banho.
Faz-se presente o contraponto entre a delicadeza dela e a brutalidade dele, ela por questões óbvias se torna um ser frágil emocional e fisicamente, ele usa da sua força para tentar ganhar a vida, o sangue escorre e ele parece se divertir com cada golpe que é dado e recebido.
Elemento crucial da história, a baleia também por sua vez é um ser tão grande e passível de destruição ao mesmo tempo em que é frágil e encantadora.
Os efeitos especiais para que Marion aparentasse estar sem pernas são chocantes pela sua realidade. Além disso, o jogo de luzes muito forte nos espaços abertos e suas cores, puxando sempre para tons de azul chama a atenção. Durante todo o filme percebemos a presença do azul, na água do mar, na piscina onde as baleias são treinadas, tudo remete a água, a fluidez.
As situações da vida fogem ao nosso controle, fatalidades acontecem, existem coisas que não se pode frear nem agarrar, assim como a água.
*Essa crítica foi escrita pela nossa nova colaboradora Luisa Antonitsch. Em breve ela terá uma coluna dedicada a crítica de filmes europeus e de arte.