Jogos Vorazes – Em Chamas

casal-Em-Chamas

O 2º filme da franquia Jogos Vorazes chega primeiro ao Brasil e mostra amadurecimento em relação ao primeiro filme. O roteiro de “Em Chamas” (escrito por Simon Beaufoy de 127 Horas e Quem Quer Ser um Milionário? e Michael Arndt deToy Story 3 e Pequena Miss Sunshine) seguiu a linha Harry Potter e foi fiel ao livro – com pequenas exceções para agilizar a trama, mas nada que influencie tanto como as mudanças feitas na adaptação do primeiro livro.

Com direção de Francis Lawrence (Eu Sou a Lenda, Constantine), Jogos Vorazes – Em Chamas mostra Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peeta Mellark (Josh Hutcherson) um ano após serem vencedores da 74º edição dos Jogos Vorazes. Eles são obrigados a manter a farsa de “casal perdidamente apaixonado” durante a turnê da vitória, em que visitam os 12 distritos de Panem, para manter a paz nos distritos. Contudo, a insatisfação da população chega a um nível crítico e a 75º edição dos Jogos é idealizada para tentar pôr um fim à revolução que se inicia em alguns deles.

Esses pontos me deixaram bastante satisfeito com o filme: Dublagem, fotografia, trilha sonora e atuações/elenco. Porém um ponto me incomodou e deixarei a análise dele por último: a tentativa de “vender o filme” para o mesmo público fã de Crepúsculo e as pequenas adaptações que isso gerou no filme. Para ser justo, analisarei primeiro os pontos positivos que citei acima.

Como dito no primeiro parágrafo, a adaptação de Em Chamas foi mais próxima ao livro, mas a dublagem brasileira também teve um salto enorme de qualidade em relação ao primeiro filme. A escolha dos dubladores para os personagens coadjuvantes foi perfeita, o que evitou o comum estranhamento inicial dos personagens. Preciso ressaltar, também, que a atuação e sincronia nas falas de Katniss e Peeta tiveram uma atenção especial.

A fotografia de Jo Willems, já confirmado para os próximos dois filmes, é mais sóbria e fria do que o filme anterior. O tom de “inverno” do início do filme se estende até o fim (mesmo no colorido da Capital) e, particularmente, acredito ser mais condizente com o clima sombrio e mórbido dos Jogos. A fotografia também deixou de ser caricata demais – o 1º filme lembrava “O Quinto Elemento”. Apesar disso, senti um certo exagero ao retratar Panem quase em preto e branco e Katniss com a pele branca como os personagens de Crepúsculo. OK, não aguentei esperar, preciso dizer que por alguns segundos Katniss e Gale me lembraram Bella e Edward.

A trilha sonora, assinada por James Newton Howard, é bem marcada e pontual. Nada de exageros, mas muito bem posicionadas nas cenas dramáticas. A plateia foi conduzida das lágrimas ao êxtase em vários momentos.

Por último, o que aconteceu com a Jennifer Lawrence? Ela parece ter saído das páginas do livro de Suzanne Collins para as telas. A dificuldade de transformar um livro em primeira pessoa em um filme deixou de existir na primeira cena de Em Chamas. Todos os conflitos internos, dúvidas e medos da personagem (muito detalhado nos livros) está estampado nas expressões corporais e faciais da atriz. Há quem diga ter sido muito cedo para premiá-la com o Oscar de melhor atriz; pra esses eu indico Jogos Vorazes – Em Chamas.

Outros atores também merecem um destaque com suas atuações, como Josh Hutcherson ao fazer um Peeta Mellark menos bobão e inútil (como do filme anterior) se assemelhando, também, ao personagem descrito nos livros; Woody Harrelson, sempre ótimo, com Haymitch (apesar do pouco destaque de seu personagem nesse filme); e os atores em papéis secundários Donald Sutherland como Presidente Snow, Sam Claflin e Jena Malone como Finnick Odair e Johanna Mason, respectivamente.

Aviso de spoiler! Leia por sua conta e risco!

Por último, porém não menos importante, está essa ligação implícita entre Jogos Vorazes e Crepúsculo. Tudo bem que ambos livros são para o público adolescente. Contudo, não há porque continuar com a premissa de que todo livro juvenil vira filme infantilizado. A história de Jogos Vorazes é cruel e não tem final feliz. O primeiro filme suavizou muita coisa durante os Jogos, como a perna amputada de Peeta e os ferimentos de Katniss e de outros participantes que são descritos no livro de forma até nojenta. Não que a Saga Crepúsculo não tenha violência, mas nela a morte tem outro significado e, em alguns momentos, chega ao ponto de ser idealizada.

Já no filme Em Chamas, um pouco da frieza do livro foi retratada, como os ferimentos na pele, o sofrimento de Katniss ao se ver como assassina e, na última parte do filme, a inexistência dessa frieza revela a transformação que os Jogos fizeram em seu caráter.

Dito isto, concluo essa crítica afirmando ser a última cena a mais desnecessária do filme. Por que encerrar com um close idêntico à última cena de Amanhecer Parte 1? A transformação física e psicológica de Katniss já era nítida nas cenas anteriores, o que me leva a crer que a intenção era, sim, uma “aproximação” da personagem com a transformação da Bella em vampiro. Desprezível.

Apesar disso, o filme é um dos melhores do ano e uma ótima adaptação.

Cotação: Ótimo