Tudo bem, as Meninas Super Poderosas foram feitas da forma mais estereotipada possível: açúcar, tempero e tudo que há de bom. Mas o elemento X transformou as três Meninas Super Poderosas em máquinas de dar surra em vilões. E o que pouca gente percebe é que elas também começaram a quebrar as expectativas dos papéis de mulheres e homens em nossa sociedade.
Eis 6 razões pelas quais as Meninas Super Poderosas foram sua introdução inconsciente à igualdade entre os sexos e poderiam ter substituído qualquer aula de Estudos de Gênero:
6. Os personagens frequentemente se travestiam do outro sexo
Se você não se lembra, o Professor vivia vestido de menina, com direito a maria chiquinha e tudo, imitando a Lindinha.
E a própria Lindinha adorava se vestir de homem, num cosplay do Prefeito.
Esse cara se transvestiu de Florzinha e ninguém notou.
Na realidade, todo mundo achava que poderia muito bem se fantasiar de Florzinha. Pelo jeito, os habitantes de Townsville não ficavam nem um pouco chocados com os pelos no corpo de uma mulher. Outra lição de Estudos de Gênero. Além disso, o Professor era visto, várias vezes, usando maquiagem.
E ficava ótimo imitando a senhorita Sara Bellum (lembram-se dela?)
Até o eterno rival das adoráveis meninas, o Macaco Louco (melhor nome de personagem de desenho da história), entrou na dança. Ele se encaixou perfeitamente no papel de amiga das Meninas Superpoderosas ao entrar como penetra em uma de suas festas do pijama.
5. As meninas tinham o cuidado de manter a mente aberta sobre gêneros
Diversos trechos do desenho deixam clara essa posição até certo ponto de vanguarda para um programa infantil. Destacamos alguns, como a conversa em que a Docinho argumenta que “só porque uma certa pessoa possui potes plásticos em casa não significa que ela é uma mulher”. “Isso”, concorda a Florzinha, “meninos também precisam guardar seus restos de comida!”.
Em outro momento, a Lindinha comenta: “Aposto que o nosso vizinho é muito forte e másculo”. Ela é logo repreendida pela Florzinha: “Lindinha! Mulheres podem levantar peso também!”. Ou quando a própria Florzinha começa a especular sobre a vida de alguma moça: “Aposto que ela é uma mulher halterofilista muito inteligente” e recebe a resposta de imediato da Lindinha: “…que se apaixona perdidamente pelo professor?”.
Em um episódio, quando um cara grande e vestido como um super-herói tentou ensiná-las sobre os papéis de gênero, elas deram show. “Existem algumas funções desempenhadas só por homens ou por mulheres, certo? Peguem a sua família como exemplo. Quem trabalha fora e sustenta a casa?”, perguntou-lhes o homem. “Nosso pai”, responderam. “Exato! E quem cozinha?”. “O pai”. “Quem lava as roupas? Quem lava a louça? Quem faz bolo?”. “O pai”, responderam repetidamente.
Não contente com o fato de as garotas e seu pai viverem com uma família moderna do século 21 (apesar de que nós assistíamos o programa nos anos 1990), o cara enorme insiste: “Então quem corta a grama do quintal e lava o carro?”. “A Lindinha!”, elas respondem em coro. O mais interessante desse episódio é que a Lindinha é vista como a mais feminina das três meninas. E, mesmo assim, é ela que faz os trabalhos manuais mais pesados – porque ela é incrível.
4. Os vilões também não prestavam atenção às expectativas de gênero
A perigosa Sedusa era uma lutadora feroz, que adorava socar seus inimigos (assim como a mocinha Sara Bellum).
A Femme Fatale, outra personagem incrível, aprontou problemas sérios com a indústria patriarcal dos super-heróis, como na cena em que ela argumenta para as Meninas Superpoderosas: “Claro que você já percebeu isso. As super-heroínas não são tão reconhecidas quando os homens”. A Lindinha tenta apaziguar a situação ao lembrar que existem a Supergirl e a Batgirl. “Nada a ver, elas são péssimas!”, retruca a Femme. “Elas não passam de uma versão feminina dos super-heróis”. Referindo-se à Lindinha, ela continua: “Além de você mesma, quem você conhece que é uma super-heroína por esforço próprio?”. “Ah, tem a Mulher Maravilha! E, ahm… Hum… É…”…
E ainda existia Ele, o diabo, que era ótimo. Aliás, presumivelmente, ele era um homem. Ele tinha uma voz ambiguamente andrógena, ficava pulando para cima e para baixo de sainha de balé e usava maquiagem. Ele era fabuloso.
Além disso, um outro grupo de personagens criado pela série foi o dos Meninos Desordeiros (Durão, Fortão e Explosão) – uma versão masculina e maligna das garotas. Tirando a parte de que os rapazes tinham como objetivo-mor acabar com a raça das Meninas Super Poderosas, eles tinham tido uma educação não tradicional e bem bacana: os Meninos Desordeiros tinham dois pais – e ninguém tinha problemas com isso. E daí que os pais eram um macaco louco e um demônio? Aliás, um deles era um ser meio diabo, meio lagosta. Alguém reclamava? Não.
3. As meninas eram bem mais “super poderosas” do que praticamente todos os homens do desenho
No seriado, os homens eram retratados como o sexo frágil. E as garotas se aproveitavam disso, ao descobrirem que os homens eram demasiadamente obcecados com a sua própria masculinidade para cuidar de assuntos mais importantes. “Toda vez que a masculinidade deles é ameaçada, eles se encolhem em tamanho”, era uma das máximas da Florzinha.
Sempre que os Meninos Desordeiros faziam algo que parecia “afeminado”, como quando se machucavam, eles literalmente encolhiam – o que na realidade era uma metáfora muito legal. No fim das contas, os homens precisavam das Meninas Super Poderosas para praticamente tudo – até mesmo tarefas ridiculamente fáceis do cotidiano -, como conseguir abrir a porta do banheiro, alcançar o papel higiênico ou o controle remoto.
2. O Professor era uma figura paterna incrível
Apesar da atmosfera geral de incompetência masculina do desenho, havia um homem realmente incrível no desenho: o Professor que criou as Meninas (afinal, quem deu origem às garotas só poderia ser uma pessoa sensacional mesmo). Além de deixar as crianças abusarem da criatividade com suas roupas, o Professor era um dedicado e carinhoso pai solteiro. Este é mais um elemento que faz o desenho tão genial – quebrando outra vez a estrutura tradicional com a qual a sociedade está acostumada, de pai e mãe.
1. Elas são frágeis poderosas
Por fim, as Meninas Super Poderosas, garotinhas tão doces e pequeninas, eram os adversários mais terríveis que qualquer vilão enfrentar.
via Hypescience, por Bruno Calzavara (fonte: qga.com.br)