Chef’s table: Alex Atala fala sobre participação na série da Netflix

Alex Atala em cena de ‘Chef’s table’: primeiro brasileiro a ganhar documentário na série produzida pela Netflix – Ricardo D’Angelo/Netflix

A lição de vida que um chef aprendeu durante uma viagem de ácido não é algo que se espera ficar sabendo durante um programa de culinária. Mas Alex Atala não é como a maioria dos chefs, da mesma forma que “Chef’s table”, série documental que estreia sua segunda temporada na próxima sexta-feira, 27, na Netflix, também foge à regra da avalanche de atrações televisivas sobre comida que tem inundado a TV tradicional e os serviços de streaming.

Criado pelo diretor americano David Gelb, “Chef’s table” se dedica a apresentar a história por trás das criações de alguns dos maiores cozinheiros da atualidade. Para fugir do efeito sonífero de certas obras do gênero, a produção investe no apuro estético: e dá-lhe imagens de comida bonita, acompanhadas de uma trilha sonora refinada.

— Me surpreendeu como o Brasil saiu bem na foto. Seja dentro do restaurante, seja na Amazônia, as imagens ficaram lindas — derrete-se Atala, que foi seguido pela produção da série durante 20 dias, do trabalho no D.O.M., seu restaurante duas estrelas Michelin em São Paulo, às suas visitas ao Vale do Paraíba e à tribo indígena Baniwa, no Amazonas, de onde saem os seus ingredientes mais inusitados.

É claro que, no fim das contas, o carisma de alguns dos chefs garante a magia. Na temporada passada, o italiano Massimo Bottura, à frente da Osteria Francescana (segundo melhor restaurante do mundo, de acordo com o ranking da “50 Best”), e o argentino Francis Mallmann, que trocou a cuisine francesa pelo churrasco dos pampas, protagonizaram os melhores episódios. Dessa vez, a responsabilidade ficou com Atala, que Gelb definiu, em entrevista ao site americano “Eater”, como “o homem mais interessante do mundo”.
O chef jura que não se sentiu desconfortável com a equipe, que, além de segui-lo aonde quer que ele fosse, revirou os seus álbuns de fotografia e arrancou declarações sobre a sua vida pessoal, do uso de drogas nos tempos de punk à sua virada ao tornar-se cozinheiro para garantir um visto de permanência na Europa.

— As pessoas da produção são de muito profissionalismo. Se tivesse que medir, foi 95% de alegria e 5% de trabalho participar — elogia ele, que se disse impressionado com o conhecimento da equipe de Gelb sobre o seu trabalho desde o primeiro contato, feito por e-mail.

— Não esperava de forma alguma o convite. Eles já tinham tudo muito pronto, dentro do que estavam propondo fazer. Sabiam de coisas sobre mim que normalmente só são faladas no Brasil. — diz Atala, que embora não seja daqueles que adentram a madrugada em maratonas de séries na Netflix (“consigo ver muito pouco, não tenho tempo”) já havia assistido à primeira temporada de “Chef’s table”. Uma queixa? Ele queria que o documentário fosse mais longo para mostrar tudo o que aconteceu durante as gravações.

— Toparia se tivesse três horas — brinca.

GRANT ACHATZ É OUTRO DESTAQUE

Não é só Alex Atala que brilha na segunda temporada de “Chef’s table”. A leva atual da série ainda conta com episódios dedicados aos chefs Ana Ros, da Eslovênia; Dominique Crenn, francesa radicada em San Francisco; Enrique Olvera, do México; Gaggan Anand, indiano radicado na Tailândia, e Grant Achatz, americano de 42 anos que ganhou fama no comando do três estrelas Michelin Alinea, em Chicago.

O chef Grant Achatz, do elogiado Alinea – Peter Sorel/Netflix

Um ex-pupilo de Thomas Keller, dos festejados The French Laundry e Per Se, Achatz protagoniza um dos episódios mais emocionantes da série, ao revelar como, no auge da fama, descobriu um câncer. Depois de receber um diagnóstico que lhe dava como opções ou a retirada da língua ou alguns meses de vida, o americano conseguiu se recuperar graças a um tratamento experimental da Universidade de Chicago. A quimioterapia fez com que ele perdesse completamente o paladar enquanto lutava contra a doença.
O retorno da capacidade de sentir o gosto dos alimentos veio, aos poucos, depois que o câncer foi embora.

“Quando nascemos, temos uma habilidade muito limitada de perceber sabores. Aos poucos, começamos a aprender a distingui-los. Mas se é tão jovem que não se tem memória gustativa e inteligência suficiente para perceber como essas coisas funcionam em sinergia. Eu fui capaz de passar por isso como um homem de 33 anos. Para mim, foi revelador. Meu mundo inteiro mudou como chefe”, revela Achatz no seu episódio, que abre a temporada.

Outras histórias fascinantes são a da eslovena Ana Ros, que prestes a seguir a carreira diplomática, virou chef da noite para o dia após resolver assumir, ao lado do marido sommelier, o restaurante dos sogros, e a do indiano Gaggan Anand, um fã de Pink Floyd de origem humilde que tornou-se o chef mais festejado da Ásia após finalmente conseguir abrir seu próprio restaurante em Bangkok, na Tailândia.

As duas próximas temporadas de “Chef’s table” já estão confirmadas. Ainda este ano, a Netflix lança mais uma leva de episódios, estes todos passados na França. Participam Alain Passard, do L’Arpege; Michel Troisgros, da Maison Troisgros; Adeline Grattard, do Yam’Tcha e Alexandre Couillon, do La Marine.

 

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