Ex-sócia de Spielberg, produtora de Star Wars admite: Desafio é agradar fãs

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Por trás do renascimento da saga “Star Wars” está uma mulher: a produtora Kathleen Kennedy. Ex-sócia do diretor Steven Spielberg, ela tem participação em quase todos os grandes sucessos que ele dirigiu ou produziu, de “E.T.” a “A Lista de Schindler”, passando por “Indiana Jones”, “De Volta para o Futuro”, “Goonies”, “Gremlins” e “Jurassic Park”, entre outros. Com um currículo que é parte indissolúvel da história do cinema dos anos 1980 e 1990, ela soma oito indicações ao Oscar.

As credenciais foram suficientes para o diretor George Lucas elegê-la como sua sucessora, pouco antes de a Lucasfilm ser comprada pela Disney por US$ 4 bilhões, há três anos. Os novos chefes a mantiveram na presidência da produtora, tirando de vez o controle de “Star Wars” das mãos de Lucas e transformando Kennedy na responsável pelos próximos episódios da série, dentre eles o “O Despertar da Força”.

Paradoxalmente, talvez tenha sido ela também a responsável pela mágoa com que o diretor tem se referido ao novo filme. Lucas, que foi anunciado como consultor da série, acabou sendo afastado da produção nos últimos três anos e tem dito que foi porque “os produtores” não apreciaram suas ideias para as três continuações e preferiram ceder às expectativas dos fãs.

Em entrevista, Kennedy diz que o afastamento de Lucas foi voluntário, e que ele percebeu que, para aproveitar a aposentadoria, não poderia se dedicar 100% ao filme. Para ela, na verdade, o maior desafio não foi lidar com o criador da saga, mas sim tentar atender às expectativas dos fãs. 

Acho que o que o George concluiu sobre si mesmo é que, se você quiser se envolver, você tem que se comprometer 100%. Você não pode simplesmente aparecer, fazer alguns comentários e depois sair de cena. Então ele teve que escolher entre se envolver 100%, ou não se envolver.
(Kathleen Kennedy, sobre o afastamento de George Lucas dos novos “Star Wars”)

Qual foi a maior dificuldade em continuar esta história?
Kathleen Kennedy – Assim que percebemos o quanto isto era importante, houve uma grande responsabilidade para atender às expectativas dos fãs. Este foi o maior desafio.

Depois de ver os nove minutos de cenas do filme [exibidos para a imprensa], é possível perceber que vocês fizeram uma boa mistura entre nostalgia e modernidade. Como isto foi feito?
Bem, sabíamos que desde “O Retorno de Jedi”, 35 anos atrás, havia fãs esperando ver algo que eles já tinham visto antes. Mas também sabíamos que tínhamos que apresentar “Star Wars” para toda uma nova geração. Então, há um monte de personagens novos para que aconteça este equilíbrio entre as duas coisas.

Como você acha que este filme poderá conquistar as novas gerações, como conquistou o público de 38 anos atrás [quando foi lançado o primeiro filme]?
A gente não sabe, na verdade. Criamos novos personagens que estão tão engajados com a história quanto aqueles do passado, e esperamos que isto conquiste as novas gerações.

Por que você acha que esta franquia é ainda tão popular?
Acho que além da história, as gerações anteriores fizeram um ótimo trabalho em passá-las paras as novas. É um tipo de filme que as famílias podem curtir juntas. É muito compartilhável, cheio de otimismo e uma autêntica rivalidade entre bem e mal. Fora isso, a densidade das histórias se conecta muito facilmente com as pessoas.

Falando em conexão com as pessoas, quantos novos produtos vocês licenciaram para este novo filme?
Eu não sei dizer exatamente quantos, mas foi na casa dos milhares.

Quando a Disney comprou a Lucasfilm e anunciou o lançamento dos episódios 7, 8 e 9 de “Star Wars”, também foi anunciado que o criador da saga, George Lucas, seria um consultor. Atualmente ele tem dado entrevistas dizendo que a Disney não gostou de suas ideias para o filme e o afastou da produção. Quais foram essas ideias?
Na verdade não aconteceu desse jeito. O que aconteceu foi que o George, quando se sentou comigo para discutir o que seria feito e quais eram suas ideias, muitas delas foram usadas. Só que ele foi viver sua vida, aproveitar sua aposentadoria. Isso há três anos. E o processo de desenvolvimento continuou, evoluiu e mudou de curso.

Deve ser complicado ter que lidar com o criador da coisa toda e mudar os rumos que ele acreditava serem os mais adequados, não?
Acho que o que o George concluiu sobre si mesmo é que, se você quiser se envolver, você tem que se comprometer 100%. Você não pode simplesmente aparecer, fazer alguns comentários e depois sair de cena. Então ele teve que escolher entre se envolver 100%, ou não se envolver.

A segunda trilogia de “Star Wars” foi severamente criticada por exagerar em termos de efeitos especiais e deixar de lado o roteiro. O que vocês aprenderam, em termos de erros e acertos, com os seis filmes anteriores?
É complicado, porque aqueles filmes, embora tenham sido avaliados pela crítica como ruins, tiveram público. Minhas filhas, por exemplo, elas conhecem a segunda trilogia, não a primeira. Elas têm aqueles “Star Wars” como o delas. Assim como esta geração terá como seus estes três próximos. Eu não usaria a palavra aprender, porque tem coisas que não mudam. Sempre é importante ter uma boa história para contar e sempre tivemos a ideia de usar todas as ferramentas: há muito efeitos especiais sim, mas também há muitas locações, cenários e personagens reais. Então, [este novo filme] é uma boa combinação de ambos. Esta é uma opção estética que fizemos. E George [Lucas] fez coisas extraordinárias em termos de desenvolvimento tecnológico. Então, eu não vejo como uma falha o que ele fez nos prólogos [episódios 1, 2 e 3], apenas vejo que algumas pessoas gostaram e outras não.

Tudo se resume a ter uma voz onde as decisões são tomadas, ter um ponto de vista e estar consciente das desigualdades. Muitas vezes, as pessoas não estão nem conscientes sobre como estão se comportando ou sobre onde as injustiças estão, até que alguém aponte estas discrepâncias. E tem que ter mais mulheres para falar disso e expressar um ponto de vista. Acho que hoje tem muitas jovens atrizes que não têm medo de falar disso e de se expressar…
(Kathleen Kennedy, sobre a desigualdade de salários para as mulheres em Hollywood)

Você como mulher nesta indústria –e após toda a controvérsia do escândalo sonyleaks, e a revelação de que os salários das atrizes eram menores do que o dos atores…
Você quer saber se eu estou sendo bem paga? (risos)

Na verdade eu quero saber se você luta pela igualdade das mulheres como produtora e e como responsável pelo pagamento destes salários…
Ah, claro que sim!

E como você faz isso?
Bem, eu falo sobre isso. Tudo se resume a ter uma voz onde as decisões são tomadas, ter um ponto de vista e estar consciente das desigualdades. Muitas vezes, as pessoas não estão nem conscientes sobre como estão se comportando ou sobre onde as injustiças estão, até que alguém aponte estas discrepâncias. E tem que ter mais mulheres para falar disso e expressar um ponto de vista. E acho que hoje tem muitas jovens atrizes que não têm medo de falar disso e de se expressar…

Você está falando de Jennifer Lawrence…
Sim, eu estou falando de Jennifer Lawrence… E de Emma [Watson]. Acho que elas têm feito coisas extraordinárias. Malala [Yousafzai, ativista paquistanesa] é inacreditavelmente um ótimo modelo para as pessoas. Digo isso porque minhas filhas falam delas, pois são da mesma geração. Definitivamente, acho que esta próxima geração é que irá mudar as coisas.

 

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