O filme sobre um grande tubarão branco que ameaça uma aprazível vila litorânea continua no imaginário coletivo tanto por suas cenas aquáticas como pela trilha sonora de John Williams, que ganhou um dos três Oscars do filme em 1976.
“Tubarão” volta em 500 salas de cinema neste domingo nos EUA pela Tuner Classic Movies e da Universal Pictures, mesmo estúdio que há quatro décadas esteve perto de não lançar a obra de ficção. O certo é que, no início, ninguém imaginou que “Tubarão” fosse se transformar no sucesso que virou. Tratava-se de um projeto menor para a Universal Studios, que naquele ano apostou suas fichas em “O Dirigível Hindenburg”, um longa-metragem sobre o histórico desastre do zepelim homônimo alemão cujo orçamento foi quatro vezes maior do que “Tubarão”, que custou cerca de US$ 4 milhões (US$ 17,5 milhões).
Spielberg, então com 27 anos, tinha dirigido apenas um filme (“Louca Escapada”), era desconhecido na indústria e se juntou ao projeto na última hora. Os produtores Richard Zanuck e David Brown preferiam outro diretor, embora a vaga tenha ficado finalmente aberta por diferenças criativas.
Zanuck acreditou no talento do jovem cineasta, segundo contaria anos mais tarde no documentário “Jaws: The Inside Story” (2010), e o protegeu em relação ao estúdio quando as coisas começaram a se definir. “Tubarão” era um projeto oportunista baseado no bestseller de mesmo nome escrito por Peter Benchley que em 1974 estava causando furor nas livrarias. Era necessário fazer o filme o mais rápido possível para aproveitar o sucesso literário, portanto a pressa foi um fator de peso desde o início.
Quando Spielberg assumiu a direção, tomou a decisão de rodar no mar – no litoral atlântico da cidade de Martha’s Vineyard, em Massachusetts – o que representou um desafio técnico que não imaginou. Até então, Hollywood tinha evitado o mar aberto por ser um ambiente à mercê de elementos incontroláveis.
O diretor, no entanto, queria a textura das ondas e o realismo da força do mar, o que, naquele tempo, não podia ser simulado no computador e não era conseguido em um tanque em um estúdio ou em um lago. A experiência confirmou os temores dos veteranos da indústria.
Aa filmagens sofreram interrupções constantes, algumas vezes por problemas meteorológicos e, em outras, por erros técnicos que obrigaram Spielberg a repensar a forma de fazer o filme. Os modelos de tubarões mecanizados fabricados para o filme e que seriam os protagonistas estragavam tanto que não se avançava na filmagem. Então, o diretor optou por deixá-los de lado em grande parte das cenas.
“O que Hitchcock faria em uma situação assim?”, perguntou a si mesmo Spielberg, que decidiu substituir o predador marinho por planos subjetivos e tomadas nas quais se percebe sua presença sob a superfície, embora nunca seja visto. Durante a filmagem, um navio afundou, rolos de filmes com material gravado molharam, e se trabalhou com um roteiro que era mudado a cada dia. O que eram para ser 60 dias de filmagem acabaram virando 157 e o filme custou US$ 14 milhões.
Spielberg esteve a ponto de desistir, em Hollywood o assinalavam como o culpado e ele acreditou que “Tubarão” acabaria com seu futuro. O estúdio esteve a ponto de demiti-lo e cancelar o projeto. Richard Dreyfuss, que liderou o elenco junto com Roy Scheider e Robert Shaw, criticou o filme após concluir as filmagens, e em entrevista admitiu que não gostava do trabalho que tinha feito – palavras das quais depois se arrependeu.
Com o produto na mão, a Universal Studios planejou uma estreia em massa (450 cinemas) e uma extensa campanha promocional em todo o país que incluía marketing pesado, algo inovador frente aos lançamentos mais escalonados (e menos arriscados). E “Tubarão” arrasou.
Em 1975, o público fez fila para ver o filme, que ficou em cartaz durante meses e foi um estrondo de bilheteria, arrecadando mais de US$ 470 milhões (equivalente hoje a mais de US$ 2 bilhões) no mundo todo. Spielberg deixou de ser questionado para, segundo suas palavras, ganhar liberdade para poder fazer “qualquer filme”, enquanto Hollywood descobriu que, ao contrário do que se pensava até então, o verão era um grande momento para vender ingressos para o cinema.
via: G1