5 perguntas para… Cia de 4

Mulher no humor, sim senhor! A Cia de 4 é uma companhia é composta pelas atrizes Karina Ramil, Lorena Comparato, Andrezza Abreu e Anita Chaves.
A Companhia foi fundada em 2011 e juntas elas acumulam créditos como ”Porta dos Fundos”, ”Homens II”, ”Rock Story” e ”Pé na Cova”, de Miguel Falabella. Estão no ar com o programa E! No Filter Wknd no canal E! Entertainment, e produzem pílulas cômicas para a série Zodíacas: Signos na Quarentena – filmada totalmente em isolamento.

Nessa entrevista reveladora, as atrizes falam sobre comédia, trabalho na quarentena e machismo.

Saiba mais:

1. Oi meninas. Queria começar perguntando como vocês se conheceram e como surgiu o interesse de vocês pela atuação.
A Cia de 4 Mulheres começou há 10 anos atrás. Mas até surgir esse nome foi um processo. Anita e Karina eram da mesma escola, e conheceram Lorena em cursos de teatro, e alguns anos depois, a Andrezza entrou para a turma das meninas no Tablado. Cada uma de nós tem uma relação específica com a atuação e uma linha de estudo que foi se intensificando ao longo dos anos!
A criação do grupo veio da vontade de fazermos personagens femininos bons e fortes, já que a gente percebia que nas peças que fazíamos eram sempre protagonizada pelos homens, e só nos restava competir pelo único papel feminino maior, que geralmente se resumia a mocinha, ou a bonita. Quando a gente se juntou era justamente pra poder fazer peças e criar projetos que tinham mais mulheres e mais personagens femininos com suas próprias narrativas.

2. Como surgiu o programa ”E! No Filter Wknd”? O que vocês destacam de mais interessante nesse projeto?
E!NoFilterWKND foi um programa apresentado para nós através do diretor e produtor Guilherme LaMotta, que conhecemos no evento Rio2C em 2019. O canal e o Gui queriam fazer de pílulas de humor que passariam durante os filmes — um projeto super ousado e diferente pro canal, que até então sempre trabalhou com realities, e não tinha nada de ficção na programação. O Gui apresentou a Cia de 4 para o Canal E! como atrizes e roteiristas, e eles toparam, e acreditaram na nossa voz.

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O mais legal desse programa pra gente foi poder trazer a nossa experiência do teatro, em que tudo é possível, nos roteiros e na atuação. Também interpretamos mais de 160 personagens e isso é muito divertido para qualquer ator. Alguns já viraram nossos xodós tipo a Dona Clélia, o Mano Sensível, o Caipira, o Claudiney, a Cidadã de Bem, e fora as várias blogueiras que a gente ama fazer! O programa é a cara da Cia de 4, porque o canal E! deu carta branca pra gente fazer nossas piadas com tudo, sem censura. E na cara de pau!
Toda sexta, sábado e domingo às 21h, o canal exibe um filme diferente. E antes, durante e depois desse filme, têm as nossas pílulas de humor que se relacionam com o filme e com o tema do final de semana.


3. Como está sendo a produção nesse período de isolamento? Como está surgindo o material para ”Zodíacas: Signos na Quarentena”?
A gente fica feliz de poder estar exercendo o que nós amamos fazer durante esse período tão difícil e contribuir para deixar o cotidiano das pessoas um pouco mais leve. A arte e principalmente o humor tem tido um papel social importante para a nossa saúde mental, afinal como a gente consegue se distrair de tantos temas difíceis? A verdade é que a comédia alivia.
Nós trabalhamos na produção de 60 vídeos curtos para o Hysteria com o projeto Zodíacas em parceria com 3 atrizes convidadas: Sol Miranda, Natália Balbino e Priscila Maria, que super entenderam nosso humor e fizeram um trabalho maravilhoso, trazendo também frescor para a nossa produção! Foi um acerto convidar cada uma delas, e ficamos super felizes com o resultado.
O material do Zodíacas tem saído de nossas próprias experiências com a quarentena. A gente vê as situações que nós – e grande parte da população está vivendo – e pensamos: ok, como uma capricorniana reagiria a isso? e uma canceriana? E assim, vamos criando situações engraçadas, inusitadas, absurdas, mas que no fundo a platéia se identifica. A gente gosta muito de astrologia, então já tínhamos um pequeno conhecimento sobre o assunto. Mas tivemos a colaboração da astróloga Isabella Heine que já trabalha com a Hysteria há tempos. Ela prestou uma consultoria e nos ajudou a pensar em situações típicas dos signos.
Agora lançamos um novo projeto, o “JORNAL DAS 4”, totalmente independente que é basicamente um compilado das notícias da semana com um comentário ácido/divertido/sarcástico da própria Cia de 4. Estamos trabalhando e desenvolvendo para depois que a quarentena passar, mas também estamos respeitando nosso momento, e estamos com um cuidado redobrado para não trazer nenhum tipo de conteúdo que possa ser incômodo. Queremos trazer diversão nesse momento, e claro, pensamento crítico, mas com leveza para qualquer um que esteja vivendo dias complicados.

4. O humor no Brasil sempre foi muito para o lado do preconceito, ou então colocava a mulher no papel de burra ou de gostosa, sem maior profundidade nas tramas. Vocês acham que o mercado mudou ou ainda existe machismo na área?
O mercado mudou, mas ainda existe machismo na área! A gente percebe que o mercado tem caminhado e mudado para nós mulheres sim, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. Não apenas para nós mas para todos os grupos de minorias. Acontece que na maioria das vezes, para um grupo de minoria se sobressair ou ser ouvido “pela grande mídia” ainda precisa da “licença” do status quo.
Queremos sim mudar alguns paradigmas existentes para as mulheres no humor, e por isso nós interpretamos todos os tipos de personagem, sempre respeitando os limites que podemos ir sem ofender ninguém. O artista e – principalmente aquele que lida com o humor – não pode se levar a sério e nem ter medo do ridículo. Mas essa possibilidade não é dada para as mulheres que sempre foram pressionadas a ter uma preocupação maior com a estética.
Pensar que a mulher só podia ser a “gostosa sem graça” ou a “feia engraçada” é algo surreal pra gente. E muito disso foi pelo trabalho de diversas outras mulheres que estão aí abrindo caminhos no Brasil e no mundo, como Tina Fey, Amy Poehler, Mindy Kaling, Issa Rae, Phoebe Waller-Bridge, Fernanda Torres, Tatá Werneck, Heloisa Perissé, Ingrid Guimarães, Marisa Orth, Noêmia Oliveira, Nathalia Cruz, e tantas outras.

5. Os trabalhos da Cia de 4 são feito por mulheres e para mulheres, seguindo uma linha de sororidade e empoderamento que se fortaleceu nos últimos anos.
Na opinião de vocês, qual espaço ainda precisa ser conquistado pelas mulheres?

Existe uma ideia no entretenimento que quando o projeto é feito por mulheres ele é para mulheres, isso acontece com outras minorias também, o conteúdo vira de nicho. Mas quando é uma obra assinada por um homem branco sob uma perspectiva heterossexual, ela é vista como universal, para todos os públicos. Talvez esse seja o momento de virar essa chave. Nós da Cia de 4 fazemos conteúdo para todo e qualquer público. Nosso podcast, nosso programa no E!, nossos vídeos na internet e nossa peça são para todes! Talvez a gente fale mais para um público adulto, mas caso surja a oportunidade, também adoraríamos fazer humor para crianças, por exemplo!
É muito importante também a gente deixar claro que quando falamos como “mulheres” não estamos querendo falar por todas, e nem poderíamos, até porque seria muito perturbador pensar que existe só um tipo de mulher. A gente sabe que nossas características e privilégios ainda nos permitiram fazer muitas outras coisas que outras minorias não tiveram a oportunidade de fazer.
A palavra “conquistada” com certeza tem muito a ver com a luta das mulheres até agora, mas queremos pensar que – assim como provavelmente muitas outras minorias – cansa estar sempre nessa posição de “desbravar”, quase numa lógica colonialista, como se a gente precisasse tirar aquele “espaço” de alguém e “conquistá-lo”. Nós queremos estar esses espaços do entretenimento com a nossa subjetividade, mas queremos compartilhá-lo/ co-habitá-los com outros olhares, e subjetividades. Queremos que nossa voz seja ouvida tanto quanto as outras.

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