O ano de 2015 foi de recordes para o cinema, graças às franquias “Velozes e Furiosos 7”, “Jurassic World”, “Os Vingadores: Era de Ultron” e “Star Wars: O Despertar da Força” que ficaram entre os dez mais vistos de 2015. Mesmo lançado em dezembro, “Star Wars” ajudou o mercado doméstico norte-americano a quebrar, no penúltimo dia do ano, outra marca histórica. Pela primeira vez, Hollywood faturou US$ 11 bilhões em bilheteria, somado todos os filmes que entraram em cartaz nos EUA e Canadá, segundo dados da Rentrank.
Embora os números sejam animadores para a indústria, não é possível comemorar a diversidade de títulos, já que a maior parte dos lucros vieram de poucos filmes que fizeram muito dinheiro. Ou seja, os preços dos ingressos subiram, os lucros aumentaram, mas menos pessoas foram aos cinemas neste ano. O recorde é US$ 200 milhões superior ao anterior, de US$10.919.694,802 em 2013.
No Brasil, o ano também foi bom. Para Paulo Sérgio Almeida, cineasta e diretor do site FilmeB, que monitora o mercado cinematográfico brasileiro, 2015 vai deixar saudades. “Mesmo com crise, sentiremos falta de 2015. Tão cedo o cinema brasileiro não terá um ano tão bom quanto esse”, disse ele ao UOL. “Este ano também tivemos um recorde em estreia de novas salas. Foram abertas 250”, contou. O Brasil possui mais de três mil salas, enquanto os EUA têm mais de 40 mil.
Para Paulo Sérgio, os franquias foram as grandes responsáveis pelo sucesso do cinema neste ano. “Costumo dizer que Coca-Cola e água não nascem na geladeira. As coisas são construídas, são pensadas. Uma franquia é uma marca que levou anos para ser construída”, explicou.
Mesmo com o país em crise, Paulo Sérgio não perdeu o otimismo. “Embora o cenário econômico não seja bom, o Brasil conseguiu consolidar uma infraestrutura de salas de cinema de alta qualidade. E isso vai continuar, mesmo na crise”.
Concorrência
O diretor do FilmeB alertou que filmes pequenos, de arte e comédias românticas serão os gêneros que terão mais dificuldade para conseguirem espaços nos cinemas. “No Brasil vamos ter que rebolar para fazer um produto competitivo”, disse. Para Paulo Sérgio, a audiência desses trabalhos está migrando para a TV e para os serviços de streaming.
Esse fenômeno é também observado pelo crítico de cinema Pedro Butcher. “Eu chamo de pequeno milagre conseguir fazer o espectador sair de casa para ir ao cinema. A indústria precisa fazer um esforço enorme para promover isso e transformar a ida ao cinema em um grande evento”, contextualizou.
Para o crítico, embora o cinema siga batendo recordes a cada ano, estamos vivendo uma estagnação. “Todo ano um pequeno recorde é batido. Hollywood adora falar que está quebrando recordes. Mas se você for analisar direito, o que está se fazendo é um esforço imenso para se manter um determinado patamar”, analisa. “As franquias funcionam e marcas consolidadas ganham muita força, como a Disney”.
O crítico Sérgio Rizzo vai além e aponta “Star Wars” como o precursor de todas as franquias. “Antes, as continuações não eram bem vistas pela indústria. ‘Star Wars’ reverteu isso, sobretudo na oportunidade de vendas de tudo quanto é badulaque”, disse Rizzo.
Para ele, no entanto, o sucesso do cinema e os recordes sucessivos batidos por Hollywood devem ser relativizados. “Os ingressos para as salas 3D e Imax são mais caros. Se a inflação for levada em consideração, ‘E O Vento Levou…’ ainda é a maior bilheteria da história”.