Crítica: ”Sísifo”

Sobe e desce a rampa, sobe e desce a rampa. Repetição, repetição, repetição. Uma festa, caos, um diálogo que só existe na sua cabeça, selfies, um amor perdido, piadas, bytes, diversão, e claro, política: ”Sísifo” é sobre tudo isso e ao mesmo tempo não é.

Usando uma fórmula criativa, Gregório está sozinho no palco na maior parte do tempo, num cenário simples, que inclui uma rampa.
Sísifo, que inspira a peça, é o herói da mitologia grega que, por seu excessivo amor a este mundo, acabou condenado a um castigo aparentemente terrível: rolar uma imensa pedra até o alto de uma montanha com o objetivo de, algum dia, poder descansar. Sempre que alcançava o alto da montanha com seu pesado fardo, no entanto, a pedra rolava novamente morro abaixo. Humor, drama, suor: está tudo ali.

Numa luta de palavras, por ora frenética, o ator não para: sobe e desce o tempo todo, vestindo um conjunto preto, enquanto as mini-cenas aparecem e desaparecem na frente de nossos olhos. Mais ao final, o monólogo ganha ares de revolta ao relembrar a quem assiste as grandes tragédias que o Brasil  passou nos últimos tempos (Brumadinho, Mariana, etc), num tipo de grito desesperado que só um ator como Gregório Duvivier poderia dar.
Tido como ”inimigo” do atual governo, o ator avisa que não poderá receber ninguém para fotos e terá que sair pela porta dos fundos (sem trocadilhos aqui) para evitar ataques.
Simples, a peça quer retratar o ponto atual da nossa existência: o que vai ladeira abaixo.

 

Cotação: Bom

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Elenco: Gregório Duvivier
Texto: Gregório Duvivier e Vinicius Calderoni
Direção: Vinicius Calderoni